Em Quando fala o coração (Alfred Hitchcock, 1945) "o enredo é quase melodramático – a personagem de Ingrid Bergman, a séria e profissional psiquiatra de um asilo de lunáticos, apaixona-se à primeira vista por um colega de trabalho que ela não muito mais tarde descobrirá ser o principal suspeito do assassinato de um psiquiatra, do qual ele, que sofre de amnésia, resolve tomar o lugar. A descoberta fará com que ela empreenda com o rapaz uma viagem física e psíquica, no intuito de sanar a patologia que o acomete e, enfim, livrá-lo da cadeia.
1945 - 111 min
No entanto, a despeito da história de amor batida e do pseudo-freudianismo em volta do qual gira a trama, o filme é fascinante, e isso se deve ao modo como isso tudo é contado. A simbologia dos óculos da personagem da médica, que, na medida em que ela os usa ou deixa de usá-los, mimetizam a sua aproximação e distanciamento do espaço exato da ciência; as sete portas que se abrem quando ela percebe-se enamorada do médico; a inversão dos costumes vigentes – a força da mulher, que não raro utiliza pijamas masculinos e gravata – e a fragilidade do homem. Há também uma acertada escolha do preto-e-branco num momento em que importantes filmes haviam sido rodados em cores, o que aumenta o clima de tensão da trama, pois enfatiza as linhas pretas na superfície branca, as quais tão funda impressão deixam no rapaz – são marcas de esquis sobre a neve que estão no subconsciente do personagem, resquícios do crime por ele testemunhado e esquecido.

E há, acima de tudo, a Ingrid Bergman, a grande e inimitável Ingrid Bergman, que, ao contrário de algumas divas da Era de Ouro do cinema, não temia se enfear quando isso era pedido pelo papel: o modo como ela se transforma da fria e masculina médica – “é surpreendente quando a gente descobre que não era o que supunha” – numa bela mulher, iluminada de dentro para fora, é exemplo cabal de sua competência.
“Quando fala o coração” é uma das produções de Hitchcock em que ele realizou o intuito de saciar o gosto do público – tanto que é bem possível assistir ao filme comendo pipoca sem se engasgar com ela – sem que, com isso, abdicasse de seus ideais estéticos."
COMENTÁRIOS
"Quando Fala o Coração" é um excelente filme de suspense e, definitivamente, o mais inteligente dos filmes de Hitchcock. Com um ritmo perfeito e contendo temas como repressão, obsessão e complexos de culpa, prova, mais uma vez, o talento inimitável de Hitchcock como diretor.
Um dos pontos que merecem atenção, neste inesquecível filme, é uma seqüência de sonhos criada por Salvador Dali.
Ingrid Bergman, Gregory Peck e Michael Chekhov estão fabulosos em seus papéis. Ressalto, ainda, a excelente trilha sonora de Miklós Rózsa.
O filme recebeu o Oscar de Melhor Trilha Sonora e foi, ainda, indicado a outros 5 Oscars, inclusive os de Melhor Filme e de Melhor Direção.
CAA -
Pais |
Estados Unidos |
Gênero: | Suspense |
Direção: | Alfred Hitchcock |
Roteiro: | Ben Hecht |
Produção: | David O. Selznick |
Música Original: | Miklós Rózsa |
Fotografia: | George Barnes |
Direção de Arte: | James Basevi |
Guarda-Roupa: | Ann Peck, Howard Greer |
Efeitos Sonoros: | Richard DeWeese |
Efeitos Especiais: | Jack Cosgrove |
ELENCO
Ingrid Bergman | Dra. Constance Peterson |
Gregory Peck | John Ballantine / Dr. Anthony Edwardes / John Brown |
Michael Chekhov | Dr. Alexander 'Alex' Brulov |
Leo G. Carroll | Dr. Murchison |
Rhonda Fleming | Mary Carmichael |
John Emery | Dr. Fleurot |
Norman Lloyd | Sr. Garmes |
Bill Goodwin | Detetive |
Steven Geray | Dr. Graff |
Art Baker | Detetive Tenente Cooley |
Donald Curtis | Harry |
Regis Toomey | Detetive Sgt. Gillespie |
Paul Harvey | Dr. Hanish |
Alfred Hitchcock | Homem deixando o elevador |
Erskine Sanford | Dr. Galt |
Irving Bacon | Funcionário da Ferrovia |
Joel Davis | John Ballantine, quando garoto |
Richard Bartell | Funcionário da Ferrovia |
Victor Kilian | Xerife |
Constance Purdy | Empregada de Dr. Brulov |
Teddy Infuhr | Irmão de John Ballantine |
Janet Scott | Norma Cramer |
PRÊMIOS
Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, EUA
Oscar de Melhor Trilha Sonora de uma Comédia ou Drama
Círculo dos Críticos de Cinema de Nova York, EUA
Prêmio de Melhor Atriz (Ingrid Bergman)
INDICAÇÕES
Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, EUA
Oscar de Melhor Fotografia
Oscar de Melhor Filme
Oscar de Melhor Direção (Alfred Hitchcock)
Oscar de Melhor Ator Coadjuvante (Michael Chekhov)
Oscar de Melhores Efeitos Especiais
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